www.flickr.com

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Atleta de Ouro, país de Bronze

beijing2008

Em todas as Olimpíadas, a comparação é inevitável. Mede-se o grau de desenvolvimento de uma nação pela quantidade de medalhas de ouro que conquistou. Como se os jogos retratassem uma disputa não só esportiva, mas também econômica ou política entre os povos. Pequim 2008 é ainda mais simbólica porque ocorre num momento de inflexão da ordem global. A China, provável vencedora, afirma-se como superpotência, no exato momento em que os Estados Unidos, deslocados do trono, mergulham numa profunda crise financeira. Esse é um jogo a que o Brasil assiste de longe – tanto no esporte como na economia. No entanto a corrida entre chineses e americanos pelo topo do mundo não é a que revela a maior evolução olímpica e econômica. Em Pequim, a verdadeira história de sucesso, ou o grande ponto fora da curva, é a Coréia do Sul. Na primeira semana olímpica o pequeno tigre asiático, que abriga 48 milhões de pessoas num território do tamanho do estado de Pernambuco, já disputava a terceira colocação.

O curioso é que, durante muitos anos, um dos grandes exercícios dos nossos intelectuais foi comparar a trajetória econômica do Brasil e da Coréia. A questão era simples: por que eles, partindo de uma base menor e sem recursos naturais, decolaram e nós não? A resposta parecia ser o modelo de desenvolvimento. Enquanto os coreanos investiram maciçamente em educação e perseguiram uma receita exportadora, que é competitiva por natureza, o Brasil se fechou e produziu carroças até a implosão liberal do início dos anos 90. Do modelo coreano nasceram multinacionais de alta tecnologia, como Hyundai, LG e Samsung.

A arrancada econômica da Coréia se refletiu no quadro de medalhas. A última vez que eles ficaram atrás do Brasil foi em 1968, no México – nós na 35ª posição e eles na 36ª. Depois disso, o foguete coreano disparou. Em Montreal 1976, eles chegaram ao 19º lugar, subiram para o 10º em Los Angeles 1984, alcançaram o 7º em Barcelona 1992 e agora já estão entre as maiores potências esportivas do mundo.

Enquanto isso, o Brasil tem terminado sempre abaixo da 20ª colocação. Um desempenho medíocre, muito aquém das potencialidades nacionais, mas que não tira o brilho de nossos desportistas. Pequim trouxe exemplos emocionantes, como o da judoca Ketleyn Quadros, que competia em quimonos “de saco”, costurados pela própria mãe.

Mas o que essas histórias revelam, em geral é o esforço sobre-humano de atletas de ouro, num país de bronze. Alguns dirão que a vocação nacional é o esporte coletivo, como o futebol. Mas esta é a exceção que confirma a regra. O futebol, para muitas crianças, é uma porta de ascensão social. Os outros esportes, que contam com pouco apoio, exigem o mesmo grau de esforço, mas a recompensa é menor. Enquanto essa for a regra, os resultados dos jogos serão sempre frustrantes, apesar de todo o ufanismo nacional.

Leonardo Attuch

Nenhum comentário: